quarta-feira, 10 de julho de 2019

Echeveria glauca, pumila, secunda... qual afinal o nome correto?

Tem uma echeveria muito conhecida com a famosa expressão "rosa-de-pedra" que é a mais comum nos gardens e mercados e com ótimos preços, porém desdenhadas pela maioria dos colecionadores por ser "comum". Pra mim planta é planta, independente de identificação, e sendo bonita eu tô querendo rs. Como disse uma amiga: eu compro plantas, não ids!

Há uns meses ela anda causando reboliço nos grupos do Facebook, por conta do nome. Vamos entender o porquê desse rolo todo?


Linda da minha "coleção". Seria a Echeveria "glauca verdadeira"?


Bom, pela foto de entrada, alguns já vão torcer o nariz pelo nome que coloquei de "glauca verdadeira". Mas espere. Eu já sei que é bobagem e vamos discutir isso a fundo rs.

Parece bobagem discutir por conta de um nome de planta. Vendo pelo lado leigo, realmente seria. Não queremos discutir, só aprender; como buscar as informações corretas, assim aprendemos mais sobre a origem da nossa planta e qual a melhor forma de cultivo.

Essa echeveria linda, como disse no começo, é bem comum nos mercados e floras em geral, com excelente preço. É bem resistente, dá mudas facilmente tanto por folha como pelo caule ou decapitação, é ótima para canteiros no chão e chega a ficar bem grande!

Mas de uns tempos pra cá surgiu uma tal de "glauca verdadeira" que está dando o que falar e é até "rara" de se encontrar. Ela tem um formato mais fechado que as outras e as folhas mais arredondadas. Seria a da foto do começo do post.


"Glauca comum"

Percebam a diferença desta acima com a da primeira foto. Essa é mais pontudinha e as folhas um pouco mais espaçadas. Realmente aquela mais redondinha considerada "verdadeira" é mais difícil de se ver pra venda. Tanto é que consegui comprar de uma amiga pelo facebook.

Então vamos começar por aqui. Não existe Echeveria glauca, muito menos, verdadeira rs. Curiosa com isso e com as várias formas que podemos encontrar desta linda, resolvi fazer uma pesquisa no Crassulaceae Network, pra saber mais e o porquê de toda essa confusão. 

Esse site é um repositório "oficial" de nomenclaturas, identificação e informações de suculentas em geral. É só entrar na espécie que quiser pesquisar e navegar pelos nomes. Lá terá fotos, cruzamentos e origens de cada planta catalogada.

Se não é glauca, é o quê? O nome correto de todas, mesmo com formas diferentes é Echeveria secunda. Clique aqui para entrar na página e saber mais. Também já foi chamada de Echeveria pumila, Cotyledon pumila, Echeveria secunda var. pumila, Echeveria glauca var. pumila, Cotyledon glauca, Echeveria secunda var. glauca, e outras mais.


Uma forma bem peculiar da Echeveria secunda que pode ser vista sendo vendida com o nome de E. Western Blue, mas pelo site Crassulaceae não há muita informação sobre este último nome. Pra mim seria mais uma forma da E. secunda.
Foto da minha coleção

Olha o que o site diz:

"Charles Uhl escreve (Haseltonia, 1995): "Walther (1972) distinguiu várias espécies desta série Secundae por diferenças no tamanho e na forma da folha. No entanto, Moran (1972) explicou por que ele combinou alguns deles com E. secunda: ele observou que muitas plantas, às vezes dentro da mesma população, são intermediárias, e essas diferenças parecem insuficientes ou não consistentes o suficiente para justificar tantas espécies. Eu considero E. secunda como uma espécie única e variável ... "."

 E mais:

"- Distribuído com o ISI n ° 178 (1958) como E. pumila. Esta espécie foi descrita em 1869 a partir de uma planta em cultivo do viveiro de Van Houtte na Bélgica, isto é, uma planta sem origem conhecida na natureza. A planta oferecida pelo ISI, no entanto, havia sido coletada no lado do vulcão Ixtaccihuatl, portanto, possivelmente não poderia ter sido idêntica à original E. pumila. Isso significa que a ISI foi identificada erroneamente."

Sobre esse "ISI" eu dei uma pesquisada e não tenho certeza, pode ser um sistema de identificação botânica ou algo do gênero. Então daí dá pra entender tantos nomes ao longo dos anos. As echeverias são plantas encontradas em toda a América Central e do Sul, mais especialmente em locais de altitude e em beira de vulcões, especificamente em todo o México.


E. secunda in habitat at Chalchihuapan, Mexico .
Fonte: Crassulaceae

Olha que interessante, no seu habitat natural ela é bem gordinha. Penso que é pelo fato da raridade de água e ela armazene mais.


Essa foi cultivada no México, também retirado no site Crassulaceae. Olha que diferente das nossas, mais gordinha!


Sobre o nome "glauca", ele significa apenas ("glaucous" em latim "cinza-azulado ou verde"). Então seria uma característica na espécie e não nome de fato.

Dito isso, mais algumas informações relevantes:

1. Os autores dos nomes sinônimos listados acima não descreveram espécies distintas, mas apenas formas um pouco diferentes da espécie muito variável E. secunda. Pequenas diferenças em comprimento das folhas e formato (mais largo ou mais estreito, ápice agudo ou mais truncado) e grau de glaucose (cor azulada/esverdeada/acinzentada);


2. Os nomes "glauca" e "pumila" foram aplicados a plantas selecionadas de um enorme número de plantas cultivadas de E. secunda em viveiros europeus, isto é, aplicadas a plantas sem origem na natureza. Uma planta selecionada em cultivo de uma variedade de mudas não pode ser classificada como uma espécie distinta.


3. O nome "glauca" em particular já estava em uso antes que Baker escrevesse sua descrição para Cotyledon glauca e provavelmente fosse usado para várias plantas. Como essas formas de E. secunda, muito na moda há algumas décadas, são perdidas para o cultivo desde muito tempo, os nomes em questão não podem ser usados ​​para seleções atualmente cultivadas de E. secunda. Tampouco podem ser usados ​​para formas de E. secunda encontradas em habitat no México - seleções de viveiros e uma origem na natureza são mutuamente exclusivas.


Outra E. secunda que tenho aqui, fica mais compacta e mais gordinha.


4. Além disso, o nome "glauca" foi mal utilizado grandemente. Variantes secunda ou híbridas com folhas azuladas eram e ainda são susceptíveis de obter este nome, embora na verdade a descrição de E. glauca exige uma planta com "pruinose" = esbranquiçada.


5. O comentário de Reid Moran* sobre as novas "espécies" de Walther** diz o seguinte: "À luz da variação observada no campo e no jardim, as supostas diferenças entre essas espécies parecem ser diferenças individuais entre espécimes; e as chaves, descrições e ilustrações são inconsistentes. Parece que ele está classificando os espécimes por diferenças triviais, enquanto não mostra nenhuma base sólida para reconhecer mais de uma espécie deste grupo nas montanhas a leste de Pachuca - México. (Resenha do livro de Walther's Echeveria, 1972.) 

* Nota minha: "Reid Moran, um explorador e cientista, passou muitos anos viajando de mula, caminhão e barco para locais remotos em toda a baixa Califórnia em busca de espécimes de plantas. Suas expedições renderam centenas de plantas de ilhas próximas a Baja, incluindo a ilha de Guadalupe, uma ilha vulcânica a 400 quilômetros ao sul de San Diego." (Fonte)

** Nota minha: Eric Walther (1892-1959), uma autoridade no gênero Echeveria, foi um escritor prolífico que fez muitas contribuições para revistas de jardinagem. Em "Echeveria Hybrids" publicado no Journal of California Horticultural Society, em 1959, ele escreveu sobre um híbrido comum nos primeiros jardins da Califórnia - Echeveria Imbricata  que significa: "folhas que se assemelham a telhas sobrepostas." (Fonte)

Informações traduzidas do Crassulaceae, página sobre Echeveria secunda


Echeveria secunda 1840: Neotype illustration from Edwards's Botanical Register 26: t.57. (1 Oct) 1840.
Fonte: Crassulaceae

Olha que linda e diferente esta forma de E. secunda
E. secunda, Michoacán, rosette 11 cm in diameterFonte: Crassulaceae
Esta também, diferente, porém a mesma E. secunda
Fonte: Crassulaceae

Às vezes vemos à venda plantas chamadas "Secunda Hidalgo", "Secunda Oaxaca", etc. que é a mesma planta mas com formas variadas, que vieram dessas cidades específicas, no México. Veja:


E. secunda, Hidalgorosette ± 6 cm in diameter
Fonte: Crassulaceae

E. secunda, Pacifica, Oaxaca, rosette ± 9 cm in diameter
Fonte: Crassulaceae

Também é utilizado para identificação de plantas, o formato e cor das flores. Vejam que nas fotos acima elas são bem características no formato e cores, apensar da planta mudas um pouco de formato:


Fonte: Crassulaceae


Olha que linda essa secunda da África do Sul:


Fonte: Crassulaceae

E. secunda 'Reglensis', Hidalgo : Seria a nossa "glauca verdadeira"?


Fonte: Crassulaceae

E temos a famosa Echeveria Secunda Compton Carousel:


Fonte: Crassulaceae

Sonho da vida. Ainda difícil de achar no Brasil e quando acha, é uma pequena fortuna.

Curiosidades sobre ela:

"Echeveria secunda 'Lenore Dean' foi seu primeiro nome. A princípio conhecido por este nome na Califórnia, com a ortografia modificada de Lenora,  não possui nenhuma descrição conhecida. [Lenora Dean é o nome de uma senhora idosa em cujo jardim privado em Compton, S de Los Angeles, Califórnia, este mutante variegado foi descoberto pela primeira vez em uma colônia de sua forma verde normal por um visitante, David Sheppard, horticultor e designer de jardim. Sonoma, São Francisco. Ele se referiu a ela como Echeveria secunda 'DS-2009'. "

Faltou aqui uma echeveria muito importante e que causa muito confusão com a E. secunda: Echeveria imbricata: 


Muda pequena de E. imbricata da minha coleção

Recebo muitas fotos de E. secunda de pessoas querendo saber se é Imbricata, que comprou como Imbricata, etc. Realmente são parecidas, mas quando a gente já está com o olho treinado, é fácil saber a diferença.

Pesquisando no nosso querido Crassulaceae, descobri que ela é um híbrido da E. Secunda com E. Metallica.


E. metallica da minha coleção. Ainda pequena, mas fica bem grande. Linda demais, mas muito difícil de cultivar, dá fungos muito fácil. Quem tem, sabe do que estou falando rs. Agora está bem forte pois o tempo aqui está muito seco, não chove há dois meses.

"Echeveria 'Imbricata' é um híbrido de Jean-Baptiste A. Deleuil, Marselha, 1874 - um dos híbridos mais antigos que conhecemos - os pais são E. glauca x E. metallica. Hoje é impossível saber quais plantas naquela época foram chamadas E. glauca e E. metallica. Muito provavelmente ambos já eram híbridos - possivelmente com E. secunda e E. gibbiflora. E. "Imbricata" difere de E. secunda em seu notável tronco e o fato de que as compensações são bastante esparsas - possivelmente devido à influência de E. gibbiflora - mas também na forma das flores. (...) Não há dúvida de que este híbrido foi feito não apenas por J.-B. A. Deleuil, mas também por vários outros criadores na Europa, bem como na América e em outros lugares. Clones parentais, claro, não eram os mesmos e isso explica porque E. 'Imbricata' é uma planta um pouco variável."

Fotos retiradas do Crassulaceae:






Variegata (morri, quero):




Diferença lado a lado de uma Imbricata e uma Secunda, da minha coleção:




Obs: as duas mudas são jovens. Percebam que a Imbricata é mais azulada, folhas mais grossas e mais arredondadas, miolo mais compacto. E quando adulta fica enorme. Já a Secunda, apesar de ficar uma roseta bem grande também, até de uns 20/25 cm, ainda assim vê-se bem a diferença.

Tem um perfil no instagram @0613_miko que é especializado só em cultivo de Imbricatas. Vale a pena seguir e se maravilhar!




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10 comentários:

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